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Copa do Mundo 2014 | FRANÇA 3 x 0 HONDURAS

Benzema liberta a França

Os gols do atacante liquidam uma fraca Honduras e ratificam a nova versão dos ‘bleus’, que recuperam sua solidariedade

O goleiro hondurenho observa a bola no segundo gol francês.
O goleiro hondurenho observa a bola no segundo gol francês.Jon Super (AP)

O futebol tem seus desejos e suas contradições. Na metade do primeiro tempo, Pogba, o pulmão da França, pagou seu pecado de juventude (21 anos) ao repelir uma entrada duríssima do hondurenho Izaguirre. O árbitro saldou a dívida com um cartão amarelo para cada um, embora bem pudesse ter sido mais drástico. No minuto 42, Wilson Palácios, o jogador mais talentoso e necessário de Honduras (29 anos), cometeu dois erros em um só: empurrou Pogba (o indultado), cometendo pênalti e levando o seu segundo cartão amarelo, com a consequente expulsão. Benzema converteu o pênalti com uma bomba de direita. Foi só o começo do seu grande dia. Aí, à beira do intervalo, a partida deu seu último suspiro para Honduras e aliviou a complexidade da França, que governava com mais autoridade do que com critério.

A nova França que Deschamps está construindo começou por deixar Giroud no banco para dar lugar a Griezmann, que, junto com Valbuena, construiu avenidas junto à área, pelas quais Benzema transitou e por onde chegaram Pogba e Matuidi. As laterais, para os laterais; os demais, pelo corredor central. E Valbuena, com os galões reluzentes para liderar todo aquele que avançasse até o gol rival: as faltas, os escanteios, os passes interiores, os cruzamentos... Tudo passa inexoravelmente por ele.

Honduras tem uma vontade defensiva que se ampara no físico de seus jogadores, cultivados muitos deles em equipes britânicas. Além desse poderio, a seleção de Suárez tinha poucos argumentos longe do seu gol. Assim, a França arrematou duas vezes ao travessão, primeiro com Matuidi, depois com Griezmann. O monólogo tinha um discurso ortodoxo, correto, mas sem emoção, até que Benzema converteu em gol a ingenuidade de Palácios. E o monólogo já era só dele.

O que tinha acabado com um desejo recomeçou na etapa complementar com o primeiro uso da tecnologia da linha de gol na história das Copas. Benzema superou Valladares com um toque sutil, que bateu na trave. No rebote, a bola bateu na mão do goleiro hondurenho, que a recolheu rapidamente – mas ela já havia entrado. O gol foi claro, embora Honduras tenha protestado até que o olho de águia lhe abriu os olhos. Oficialmente poderia ter sido anotado como gol contra, mas o mérito foi todo de Benzema, ativo e ágil em toda a partida, lendo os passes de Valbuena e Griezmann. É a nova França de Deschamps, sem o brilho nem o luxo de antigamente, mas com a solidariedade recuperada, o que não é pouco depois das últimas depressões.

As circunstâncias levaram o desespero para o time de Honduras, que, por impotência, recorreu a pequenas faltas, assumindo que a partida se tornava longa, e que a distância no placar era grande demais. Um chute Boniek Gómez foi seu único lampejo no ataque.

A partida havia morrido cedo demais, para tranquilidade da França, que rompia a maldição do primeiro jogo: nas três últimas Copas, os bleus tinham estreado sem marcar um só gol. E neste domingo foram três, como vingança pela maldição. E todos de Benzema – sendo o terceiro belíssimo –, de todas as maneiras, com a mesma precisão e a mesma fé. Benzema, criticado tantas vezes em seu país por sua falta de gol, tirou o espinho da garganta e gritou três vezes com os pés.

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