_
_
_
_
_

O ‘pentacampeão’ Blatter

O presidente da FIFA, de 78 anos, sai vencedor do congresso mais complicado e anuncia que pretende continuar no cargo

Ladislao J. Moñino
Blatter, no congresso da FIFA.
Blatter, no congresso da FIFA.Alexandre Schneider (Getty Images)

No mastodôntico e luxuoso TransAmérica Expo Center de São Paulo, Joseph Blatter (78 anos) reafirmou sua decisão de disputar a reeleição que o levaria a um quinto mandato como presidente da FIFA. Ao contrário do que havia anunciado em 2011, quando garantiu que não voltaria a encabeçar uma candidatura, o dirigente suíço disse aos dirigentes do futebol mundial ali reunidos que sua “missão ainda não está terminada”. E pode ser longa, porque no 64º congresso foi aprovado que não haverá nem limite de idade nem de mandato. “Quero continuar acompanhando a construção da nova FIFA, vocês decidem”, disse.

O anúncio de Blatter de tentar permanecer no cargo se apresentando para a eleição que será realizada em 28 e 29 de maio de 2015, foi feito com mais temas obscuros na pauta do que aqueles que ele teve que enfrentar desde que assumiu o cargo, em 1998. As acusações de corrupção na eleição do Catar como sede da Copa de 2022, os problemas de organização e logística no Brasil, incluídas as mortes de nove trabalhadores na construção dos estádios, puseram o dirigente em xeque perante a opinião pública. Embora tenha saído aclamado, Blatter teve que escutar protestos e denúncias que deixaram bem abaladas sua imagem e a da FIFA no mundo.

Diante das acusações de corrupção em relação ao Catar 2022, os dirigentes falaram de racismo

Diante das acusações de corrupção, os dirigentes que se expressaram falaram de racismo para quem questionava a candidatura do Catar. Michael García, o ex-inspetor da Interpol contratado por uma boa quantia pela FIFA há dois anos para investigar os desvios, anunciou que seu relatório está pronto, mas ele ainda vai demorar para revelar suas averiguações. Alguns representantes de federações presentes garantem que a investigação quase não terá consequências, embora vá denunciar, sim, que o sistema tem brechas pelas quais a corrupção se infiltra. O presidente da Federação Cubana, Luis Fernández, defendeu que não haja limite de idade nem de mandatos: “O limite de idade é discriminação. Nós que entendemos de futebol sabemos que não há limites de idade para os bons jogadores e treinadores quando estão ganhando. Ninguém muda o presidente quando temos uma FIFA vitoriosa que chega aos países pequenos e que é exemplo até para as Nações Unidas”.

Em uma das primeiras intervenções do dia, Julio Grondona, presidente da Associação de Futebol Argentina, anunciou que as reservas monetárias da FIFA alcançaram 1,43 bilhão de dólares (3,2 bilhões de reais). Esse foi o aperitivo cativante do anúncio seguinte. O órgão máximo do futebol mundial repartirá entre as 209 federações que o compõem 1,6 milhões de reais. A cifra não é de grande relevância para seus associados do Primeiro Mundo, mas para os países mais pobres significa uma injeção econômica que em alguns casos pode representar o orçamento de dois anos.

Mais informações
A bola não se mancha
A corrupção espreita a FIFA
Fifa protagoniza nova confusão, desta vez sobre a Copa do Catar
A Inglaterra ainda quer receber a próxima Copa
Blatter diz que o estádio de abertura da Copa não estará pronto até abril

Na terça-feira, primeiro dia do congresso, Blatter recebeu um histórico sinal de alarme bem no ponto de equilíbrio da FIFA. Os grandes patrocinadores lhe comunicaram que não estão dispostos a deixar que suas marcas e produtos sejam associados a um futebol acusado de corrupção. A imagem de indígenas disparando flechas em Brasília, em um ato organizado pela bebida refrescante mais universal, causou mal-estar em alguns dos grandes mecenas da FIFA.

O presidente da Federação Holandesa de Futebol, Michael van Praag, convidou-o na terça-feira a não apresentar sua candidatura: “A reputação da FIFA está extremamente ligada à corrupção.” Mais tarde se uniu a ele o vice-presidente da Federação Inglesa. Ambos parecem liderar uma corrente europeia, ainda minoritária, encabeçada pelo presidente da UEFA, Michel Platini. Mas até essa oposição de alguma maneira estendeu a mão a Blatter ao não se mostrar beligerante diante da solicitude da FIFA de que seus membros não se envolvam em uma batalha pré-eleitoral a poucas horas do começo da Copa.

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_