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A bola não se mancha

Os grandes patrocinadores pressionam a FIFA para que esclareça a eleição do Catar 2022

Ramon Besa
Rio de Janeiro -
O presidente da FIFA Joseph Blatter.
O presidente da FIFA Joseph Blatter.Stuart Franklin (Getty Images)

A FIFA está sentada sobre um barril de pólvora em São Paulo. A pressão já não é mais só da imprensa na medida que os próprios patrocinadores da entidade solicitam o esclarecimento até as últimas consequências do processo de eleição da Copa do Mundo de 2022, depois que aumentaram as denúncias de suborno contra o organizador: Catar. Não se tratam de quaisquer empresas, mas sim de VISA, Adidas, Sony, que deram o primeiro passo, e Budweiser, Coca-Cola e Hyundai. Todas elas exigem uma investigação séria e profunda pelo bem do futebol na espera pelo início da Copa do Mundo do Brasil. A resposta da FIFA dependerá da investigação do presidente da comissão de ética, Michael J. Garcia (ex-procurador federal em Nova York), que pede 60 dias para mandar o resultado de seu trabalho para o organismo internacional.

“O debate público aberto não é bom para a marca do futebol, para a instituição e os patrocinadores”, disseram fontes da Adidas, empresa que em novembro passado renovou seu contrato com a FIFA até 2030. “Temos de dar prioridade para a investigação”. Porta-vozes da VISA também expressaram a confiança de que a FIFA levará “muito a sério” o trabalho iniciado para esclarecer as condições da eleição das últimas sedes do Mundial. “Nossa objetivo é que a festa do futebol continue no mundo inteiro para nossos fãs e clientes”. A Sony mostrou confiança de que a investigação “seja apropriada”.

O debate público não é bom para o futebol", assinalam na Adidas

Há um denominador comum entre os patrocinadores: se defende a saúde do futebol com ética e transparência e ações rápidas e apropriadas por parte da FIFA. Não é um pedido comum mas sim inédito e calculado frente o início, hoje, do congresso da entidade em São Paulo e a conclusão das investigações da equipe de Michael J. Garcia. Ainda que reafirmem que não participam da administração do esporte, recordam da necessidade de atuar com seriedade ante qualquer suspeita sobre a eleição do Catar 2022 e também da Rússia 2018. “Os três patrocinadores [sobre os primeiros que tomaram a atitude] asseguram que confiam 100% na investigação encarregada”, respondeu de pronto Thierry Weil, diretor de marketing da FIFA.

Weil procurou minimizar o impacto produzido pelos pedidos de Adidas, VISA e Sony. “Estamos em permanente contato com nosso patrocinadores”, disse Weil, “e eles não exigiram nada que não possam assumir as atuações do Comitê de Ética independente da FIFA”. As investigações não conseguiram frear as novas acusações somadas à informação original do The Sunday Times segundo a qual o catariano Mohamed Bin Hamman, que fez parte da diretoria da FIFA, teria pago 3,7 milhões de euros (11,20 milhões de reais) a 30 presidentes de futebol africanos para conseguir o Mundial de 2022 para o Catar. Apesar da maioria dos dirigentes não ter direito à voto, Hamman queria gerar uma onda de apoio para a candidatura para depois influenciar de forma direta nos quatro membros africanos do comitê da FIFA que participavam da eleição, de acordo com as notícias do diário britânico. O comitê organizador da Copa do Mundo do Catar 2022 reitera que Hamman “não desempenhou nenhum papel oficial nem extraoficial” no processo de eleição, circunstância que deverá ser ratificada ou desmentida pelo documento finalizado ontem por Michael J. Garcia, depois de entrevistar várias testemunhas.

Não se descarta repetir as eleições para o Mundial de 2022 nem, por extensão, já que a decisão foi tomada pelos mesmos dirigentes, as eleições do Mundial de 2018 ganho pela Rússia em disputa com a Inglaterra. O primeiro ministro britânico David Cameron já expressou a disponibilidade dos ingleses para organizar a próxima edição da Copa do Mundo. Maradona, ex-jogador que sempre enfrenta a máxima entidade oficial do futebol, aproveitou a ocasião: “Há anos ocorrem muitos subornos na FIFA”, disse o argentino ao diário Al-Ittihad de Abu Dabi, “e os responsáveis devem prestar contas. O futebol deve encontrar sua vocação original, a de um esporte de prazer, longe da corrupção que o está manchando”.

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