_
_
_
_
_

O cineasta que adora Evo Morales

Juan Carlos Valdivia dirige um curta sobre a paixão do presidente boliviano por futebol

Rocío García
Juan Carlos Valdivia
Juan Carlos ValdiviaGabriel Barceló

Na Bolívia, consideram-no o cineasta da mudança política e social pela qual passa o país desde a chegada de Evo Morales à presidência. Ele não tem isso tão claro, mas não se assusta com essa classificação e nem com a crítica. Na verdade, até a compreende. Não à toa, Juan Carlos Valdivia, um dos cineastas mais importantes da Bolívia, confessa em público sua paixão por Evo Morales. "Adoro Evo Morales. É o melhor presidente que o nosso país já teve. Estou fascinado pelo momento político que estamos vivendo. É um processo no qual nós, como país, podemos pensar em muito mais do que em um simples panfleto político", assegurou Valdivia em La Paz, durante um encontro de cineastas celebrados na Casa da Cultura da Embaixada da Espanha. Valdivia acaba de terminar um curta sobre Evo Morales, parte do projeto Shorts Plays, um coletivo de filmes no qual, sob o contexto do Mundial de Futebol do Brasil em junho, 31 produtores mostrarão a grandeza desse esporte por diferentes ângulos. Participam do filme, entre outros, o mexicano Carlos Reygadas, o francês Vincent Gallo e o tailandês Apichatopong Weerasethakul. O lançamento coincide com a celebração do grande palco mundial do futebol.

Valdivia, natural de La Paz e formado profissionalmente no México, onde começou sua carreira como cineasta (Jonas e a baleia dourada e American Viso) retornou ao seu país de origem para começar uma nova etapa com Zona Sul, um retrato da classe alta boliviana, por meio de uma família, em um momento de grandes mudanças sociais - filme que valeu o prêmio de melhor direção e roteiro no festival de Sundance e uma grande projeção no Festival de Berlim - e continua com o mais recente Yvy Maraey (Terra sem Mal), um documentário que mostra o patrimônio cultural de um povo através da viagem do produtor (o próprio Valdivia) e um líder indígena com o objetivo de pesquisar para um filme sobre o mundo guaraní. O ponto de partida desta viagem é uma imagem em movimento filmada por um explorador sueco em 1910.

Adoro a Evo Morales. É o melhor presidente que teve nunca nosso país”

Homem inquieto, que não para de buscar novos caminhos e de fazer reflexões sobre a sua carreira, que às vezes resultam em mudanças, Valdivia, de 50 anos, está ultimamente muito interessado nos temas da identidade, nesse processo de conhecer o contrário e aceitá-lo, como o que a Bolívia está vivendo desde a chegada de Evo Morales ao poder, em dezembro de 2005. "Fico fascinado com o personagem. É um homem intuitivo e inteligente, ciente da responsabilidade de ser o primeiro presidente indígena da história da Bolívia. Ele disse que tem que ser o melhor presidente da Bolívia porque, do contrário, jamais um haverá outro presidente indígena", assegura Valdivia, que acaba de terminar o curta sobre Morales para o Mundial do Brasil. "Evo Morales joga futebol diariamente. Se não encontra rivais, joga com sua equipe de segurança. Quando visita outro país, sempre organiza partidas. Está obcecado por inaugurar campos e é um grande defensor da importância do esporte", acrescenta o produtor, que conheceu o presidente por causa dessa tarefa.

O curta, chamado Cambio de juego (Mudança de jogo), tem a duração de quatro minutos e meio e está em fase pós-produção. "É lúdico", diz Valdivia sobre o seu projeto, "muito dentro do espírito do Mundial. Acredito que Evo Morales vai chamar atenção pela sua paixão pelo futebol e pelo exemplo que dá aos jovens. Espero que o efeito das centenas de campos que inaugurou ao redor do país nos leve de volta ao Mundial". Em suas viagens com ele de avião e nas partidas de futebol, Valdivia pode conhecer mais profundamente a personalidade desse homem nascido no Altiplano boliviano. "No meu país, temos uma imagem muito anacrônica, com um guarda-roupas muito velho. As culturas indígenas têm outra noção de tempo. Para eles, o futuro está para trás e o passado, à frente. Sabem da importância de recuperar sua herança cósmica para poder olhar para o futuro com um olho sempre no passado. Nesse sentido, Morales está decidido a reinventar o país. É um sonhador e, como é tão teimoso e obstinado, certamente vai conseguir", acrescenta Valdivia, que, apesar de essa paixão pelo presidente, não esconde que tudo pode mudar. "Por que acha que dei à minha produtora o nome de Nómada [Nômade, em português]?"

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_