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Eleições Europeias

Sarkozy propõe adotar restrições em fronteiras internas da Europa

O ex-presidente francês defende o motor franco-alemão contra “as derivas” de Bruxelas

Sarkozy em um jogo do PSG no último sábado.
Sarkozy em um jogo do PSG no último sábado.FRANCK FIFE (AFP)

Nicolas Sarkozy saiu do seu retiro e mergulhou no debate da campanha para as eleições europeias com um artigo publicado hoje na revista Le Point, em que defende uma renovação profunda da União Europeia e a suspensão imediata do Acordo de Schengen, que garante a livre circulação de pessoas entre 26 países europeus. O ex-presidente francês reiterou sua fé europeísta, convocando à defesa “desse tesouro” contra uma “explosão populista”. “É preciso suspender imediatamente Schengen I e aprovar um Schengen II, ao qual os países poderiam aderir apenas depois de adotarem antecipadamente a mesma política de imigração”, propôs o político conservador.

A ideia de Sarkozy é “impedir que os estrangeiros possam retorcer os procedimentos que lhes permitem penetrar no Espaço Schengen para escolher o país onde os benefícios sociais são mais generosos”. O argumento é parecido com o utilizado pela Alemanha recentemente e que foi acatado liminarmente por um tribunal da União Europeia. O Acordo de Schengen, assinado em 1985, suprimiu as fronteiras interiores em uma área que hoje abrange 25 países europeus (22 da UE e três extracomunitários), transferindo os controles alfandegários às fronteiras exteriores.

A coluna do ex-presidente parece devolver o leitor aos tempos em que Sarkozy formava com a chanceler alemã, Angela Merkel, o casal Merkozy. Como naquela época, o ex-presidente se declara favorável a uma Europa em duas velocidades: “Precisamos deixar de acreditar no mito da igualdade de direitos e responsabilidades entre todos os países membros”, afirma Sarkozy, que defende uma maior colaboração do motor franco-alemão e a criação de uma grande zona econômica bilateral: “Isso nos permitirá defender melhor nossos interesses contra a concorrência alemã, superando nossas desvantagens fiscais e sociais”, e “assumir a liderança dos 18 países que compõem a União Monetária”.

Embora sua intenção declarada seja combater a eclosão da extrema direita, que parte como favorita à vitória em vários países, inclusive a França, Sarkozy afirma que a UE “deve ser preservada”, e ao mesmo tempo sublinha que “suas derivas devem ser corrigidas”. A contradição repete o ocorrido entre os dois turnos da campanha eleitoral de 2012, quando o ex-líder do partido centro-direitista UMP tentou combater a Frente Nacional no terreno da imigração, utilizando ideias muito parecidas com as defendidas por Marine Le Pen, dirigente da FN. Sarkozy afirma que “Europa fracassou sem perdão na questão essencial dos fluxos migratórios”, e por isso ele propõe “refundar as regras comuns europeias para controlar melhor a imigração ilegal”. É o mesmo que diz Le Pen.

Tentando conquistar o “voto patriota” aglutinado em torno da Frente Nacional, Sarkozy promete também que “a cultura e o modo de vida franceses não se diluirão na Europa”, e acrescenta: “É preciso lutar ao mesmo tempo pela Europa e pela defesa de nossa identidade, para proteger as particularidades nacionais”. Le Pen reagiu ao artigo dizendo que Sarkozy é um “comediante de repetição” e acusando-o de copiar suas receitas.

Curiosamente, Sarkozy não cita nem uma só vez o seu partido, a UMP, e tampouco pede voto para seus seguidores. É uma forma de se colocar acima da luta partidária e de recordar que fala como ex-presidente da República. A mensagem implícita nessa atitude é que Sarkozy prepara sua volta à arena política com vistas às eleições presidenciais de 2017.

Para o próximo domingo, as pesquisas preveem uma vitória da Frente Nacional numa disputa acirrada com a dividida UMP, de centro-direita. Os dois partidos devem se aproximar de 23% dos votos. Os socialistas seriam a terceira força, com apenas 18,5%. E a abstenção rondará 60%. Nos últimos dias, o primeiro-ministro Manuel Valls tentou uma estratégia do “salve-se quem puder”, intensificando a agenda de comícios e prometendo reduzir os impostos dos mais pobres no segundo semestre. De acordo com as pesquisas, a imagem da UE se degradou na França até níveis inéditos, e hoje só 39% têm uma opinião positiva sobre Europa. Entre os franceses entrevistados, 75% dizem conhecer mal as instituições europeias.

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