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A queda na indústria automotiva põe em risco milhares de empregos no Mercosul

A diminuição das vendas no Brasil e na Argentina obriga as fábricas a cortar funcionários Buenos Aires e Brasília conversarão nesta terça-feira sobre o setor automotivo

Alejandro Rebossio
Tráfego em uma avenida de Montevidéu, Uruguai.
Tráfego em uma avenida de Montevidéu, Uruguai.I. FRANCO (EFE)

A indústria automobilística do Brasil e Argentina passou dos festejos de marcos históricos de produção e vendas internas em 2013, respectivamente, a uma conjuntura neste primeiro quadrimestre de 2014 na qual milhares de empregos se encontram em risco. Em um mercado fechado como o do Mercosul (que inclui também Venezuela, Paraguai e Uruguai), onde as fábricas de ambos os países abastecem principalmente o bloco, mas também exportam para o restante da América Latina e outras regiões, a queda nos mercados brasileiro e argentino levou algumas multinacionais a anunciarem suspensões de quadros ou antecipação de aposentadorias.

O ministro brasileiro da Fazenda, Guido Mantega, disse nesta segunda-feira que o governo analisa medidas para estimular o crédito para a compra de veículos e negociará com o de Cristina Fernández de Kirchner a eliminação de barreiras para a exportação a esse país. O chefe do Gabinete de Ministros argentino, Jorge Capitanich, atribuiu as suspensões e as antecipações de aposentadorias em seu país à redução do mercado brasileiro e também apostou em um acordo com o Executivo de Dilma Rousseff que substitua o atual regime bilateral de intercâmbio compensado de carros e peças, que expira em 30 de junho.

As vendas de automóveis no Brasil retrocederam 15,2% em março e acumularam um encolhimento de 2,1% no primeiro trimestre de 2014. As exportações caíram 18,8% em março e 32,7% nos três primeiros meses do ano, em especial por causa da contração da demanda argentina, segundo a entidade que representa as fábricas brasileiras. No final das contas, a produção do gigante sul-americano caiu 17,6% no mês passado e 8,4% no trimestre.

O mercado argentino se contraiu 35,5% em março, com o que acumulou uma redução de 25,4% nos primeiros três meses de 2014. As exportações, cujo comprador hegemônico é o Brasil, diminuíram 30,8% no mês passado e 17,8% no trimestre. Portanto, a produção caiu 26,2% e 16,2%, respectivamente.

Nesta terça-feira os ministros argentinos de Economia, Axel Kicillof, e da Indústria, Débora Giorgi, viajam para Brasília para se reunirem com seu colega brasileiro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Mauro Borges, e o assessor de Rousseff para Assuntos internacionais, Marco Aurélio García, para tratar especialmente do acordo automotivo e da deterioração do comércio bilateral em geral.

Ambos os países pouco cresceram em 2013. Assim como o Brasil pretende que a Argentina derrube travas ao comércio, o Governo de Fernández quer equilibrar o saldo do intercâmbio de carros e peças. Além do mais, ambas as partes negociam financiamento do Brasil para as importações argentinas de produtos brasileiros, com o objetivo de evitar que a Argentina perca reservas internacionais em um momento em que conseguiu reverter o seu declínio depois da desvalorização do peso em janeiro.

Assim como o Brasil pretende derrubar travas ao comércio, o Governo de Cristina Fernández quer equilibrar o saldo de intercâmbio de carros e peças

No entanto, algumas multinacionais do setor automotivo, que em geral possuem fábricas tanto no Brasil (sétimo produtor mundial) como na Argentina (19°), anunciam medidas de emergência no campo trabalhista, embora não incluam demissões.

No gigante sul-americano, a Volkswagen suspenderá a partir de maio e por cinco meses 1.300 trabalhadores. A Fiat adiantou na semana passada dez dias de férias de 900 operários. Pouco antes havia feito o mesmo com outros 800. É comum que antes das quedas de produção as fábricas de automóveis optem primeiro por antecipar o descanso dos operários e, assim que esse recurso se esgota, suspendam os contratos de trabalho. O último passo é a demissão, embora também haja empresas que antecipam aposentadorias ou proponham saídas voluntárias.

No Brasil, a fábrica de caminhões Scania antecipou de junho para maio 15 dias e férias para 3.800 empregados. Sua concorrente Man negocia com o sindicato a suspensão de 200. A PSA Peugeot Citroën suspendeu 900 operários. A Ford deu descanso a outros 900. A General Motors (GM) fez o mesmo com 400. A Mercedes-Benz ordenou férias para 450 e, além disso, abriu um programa de demissões voluntárias comunicando a seus 9.500 operários que tem 2.000 excedentes.

As más notícias se misturam no maior parceiro do Mercosul com projetos de investimento de longo prazo que criam empregos. A Fiat anunciou que contratará 850 pessoas em seu novo polo produtivo do Estado de Pernambuco, onde os fornecedores contratarão outros 1.350. A Peugeot Citroën acaba de inaugurar uma fábrica de motores na Bahia na qual emprega 300 pessoas. A Nissan abriu uma fábrica de carros no Estado do Rio de Janeiro que criou 2.000 postos de trabalho diretos e indiretos. A Renault anunciou um investimento em instalações que dará emprego a 6.500 pessoas, ao mesmo tempo que os fornecedores contratarão outras 1.000

Na Argentina, a Fiat suspendeu 600 operários e a Renault, 500. A Volkswagen negociou com o sindicato a aposentadoria voluntária de 320 maiores de 62 anos, mas ainda falta definir o destino de outros 400 operários. Em troca, a Toyota e a Mercedes-Benz continuam dando horas extras de trabalho a seus empregados.

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