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Argentina sobe nos mercados

Os investidores apostam em uma mudança de Governo em 2015 e comemoram a postura conservadora da presidenta na economia

Alejandro Rebossio
A presidenta argentina Cristina Fernández
A presidenta argentina Cristina FernándezEFE

A Argentina não atravessa o melhor momento de sua economia. A atividade cresceu apenas 0,5% no primeiro trimestre de 2014, segundo a consultoria Ferreres, e a inflação subiu para 33,4% até março, depois da desvalorização do peso, em janeiro. Na última quinta-feira, uma greve geral parou o país. Mas nem tudo são más notícias: os investidores financeiros apostam em seus títulos e ações.

Desde que, nas eleições legislativas de 2013, foi descartada a possibilidade de se reformar a Constituição para permitir que Cristina Fernández de Kirchner tentasse outra reeleição em 2015, as ações e títulos públicos da Argentina começaram a subir, e os riscos de investimento, a baixarem.

O excesso de liquidez nos mercados favorece ao país austral

Os mercados começaram a ter boas expectativas de que o próximo chefe de Estado seja mais condescendente com eles que a presidenta Kirchner. Com a desvalorização do peso, os indicadores caíram por medo de que a situação econômica e política se tornassem caóticas, mas as autoridades argentinas tomaram uma série de medidas econômicas conservadoras, combinadas com outras menos ortodoxas, e os investidores as celebraram com uma recuperação nos valores de títulos e ações.

Também influencia o fato de que os mercados mundiais estão inflados de liquidez e buscam rendimentos sem reparar nos riscos, como mostra o recente caso bem sucedido dos títulos da dívida da Grécia, um país que foi salvo pela União Europeia.

Alguns duvidam de que o giro de Fernández seja definitivo

Nos últimos 12 meses, o índice Merval da bolsa de Buenos Aires subiu 81%, sendo superado apenas pelo da bolsa de Caracas. Até agora, em 2014, o aumento é de 17%, atrás apenas da bolsa do Cairo, que subiu 18%. O índice de risco de investimento, que há um ano superava os 1300 pontos básicos, agora está abaixo de 800. Já não está comparável ao da Ucrânia, como na época da desvalorização de janeiro, mas ainda há muito para melhorar.

Um julgamento nos Estados Unidos, do grupo minoritário de credores que reprovou a renegociação da dívida argentina de 2005, ainda mantém o país sob o risco de uma suspensão de pagamentos.

“Os mercados mundiais estão abarrotados de dinheiro e não encontram bons rendimentos, o que leva à desvalorização dos riscos. As cotações das ações e títulos argentinos estava demorando muito”, explica Guillermo Nielsen, que durante os primeiros anos dos governos kirchneristas foi secretário de Finanças. No cargo, ele negociou o pagamento da dívida, e além disso trabalhou como embaixador na Alemanha.

Freio na fuga de capitais

Desde 2007, quando Cristina substituiu a seu marido, Néstor Kirchner, na presidência da Argentina, as ações das empresas do país passaram a valer a metade do custam, em média, em países como Brasil, México, Colômbia, Chile e Peru, segundo um estudo do decano da Escola de Negócios da Universidad Torcuato Di Tella, Juan José Cruces. Desde 2013, no entanto, essa diferença começou a diminuir, segundo o professor da universidade portenha.

“Desde o mês de agosto, a fuga de capital foi substituída pela entrada, porque há a expectativa de que chegara em 2015 um governo mais amigável com o mercado”, explica Claudio Porcel, presidente da Balanz Capital, uma das principais operadoras de títulos da Argentina. Porcel explica que o mercado prevê, por enquanto, que o próximo presidente seria ou peronista opositor Sergio Massa, vencedor das eleições legislativas de Buenos Aires de 2013; ou kirchnerista moderado Daniel Scoli, governador da província de Buenos Aires, ou o conservador Mauricio Macri, prefeito da capital.

Porcel e Cruzes, no entanto, coincidem em assinalar que os mercados também aprovaram as medidas ortodoxas que Cristina Kirchner começou a adotar neste ano para evitar um colapso econômico. Entre elas, está uma desvalorização limitada, a melhora na qualidade de indicativos públicos, os ajustes fiscal e monetário, a volta ao mercado interno de dívidas após seis anos, e o início formal das negociações sobre a dívida não paga aos países ricos do Clube de Paris. “Os investidores veem que, se não esperarem até o próximo Governo, podem conseguir ativos mais baratos”, comenta Nielsen. Cruces afirma que a Argentina pode se tornar a próxima “pérola” dos mercados latino-americanos, mas também há quem prefira continuar esperando até que o panorama esteja mais claro. Estes desconfiam que o Governo de Cristina aprofunde suas medidas conservadoras e duvidam a atual estabilização cambial, ainda que esta atitude suponha que amanhã tenham de pagar mais em um país em plena crise.

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