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Polícia investiga relação de políticos com o assassinato de ex-senador boliviano

Andrés Heredia Guzmán foi morto a tiros pelo motorista do empresário Olacyr de Moraes, um dos homens mais ricos do Brasil

Andrés Heredia e Olacyr de Moraes, em Moscou.
Andrés Heredia e Olacyr de Moraes, em Moscou.Reprodução

A morte de um ex-senador boliviano em São Paulo está cercada de mistérios que, em algum momento, pode ter relação com políticos brasileiros. Andrés Fermin Heredia Guzmán, de 60 anos, foi assassinado na manhã de sexta feira a tiros pelo motorista e segurança de um dos empresários que foi um dos homens mais ricos do país e um dos primeiros a chegar à fortuna pessoal de um bilhão de dólares, o ex-rei da soja Olacyr de Moraes, de 83 anos.

O assassinato aconteceu na manhã desta sexta-feira, pouco após o ex-político sair da casa de Moraes com 399.900 reais em dinheiro dentro de uma sacola. O motorista do empresário, Miguel Garcia Ferreira, de 61 anos, pediu uma carona no carro blindado do boliviano. Minutos depois, Ferreira apontou um revólver calibre 38 para Heredia e disparou quatro vezes. Três projéteis atingiram a vítima, que morreu antes de ser socorrida.

Quando foi preso, Ferreira afirmou que só queria dar um susto no boliviano, porque ele estaria extorquindo seu chefe. Ocorre que quando viu a arma apontada pelo motorista, Heredia reagiu e acabou sendo alvejado. Segundo policiais que investigam o caso, o atirador disse ser muito fiel a Moraes, com quem trabalha há 38 anos, e não aceitava ver seu patrão, que está doente em casa, sofrendo com as extorsões do ex-senador.

Polícia apura se atirador cumpria ordens de alguém e  para quem seria entregue os 399.900 reais que estavam com a vítima.

Um graduado policial paulista afirmou a este diário que agora é necessário esclarecer quais são as reais circunstâncias do crime. Se a versão do atirador é verdadeira, se ele cumpria ordens de alguém e, o que mais intriga os investigadores, para quem seria entregue esse dinheiro. A suspeita envolvendo políticos surgiu por conta da atual profissão de Heredia, a de lobista.

Em 2012, por exemplo, ele esteve na comitiva da presidenta Dilma Rousseff (PT) que viajou a Moscou, conforme revelou neste sábado o jornal Folha de S. Paulo. Na ocasião ele se apresentou como diretor de assuntos internacionais de duas mineradoras. Coincidência ou não, três anos atrás Moraes passou a investir em minério. A polícia diz que ambos fazem negócios há 20 anos.

A polícia diz que ainda é cedo para citar qualquer nome de potenciais políticos que seriam beneficiados pelo crime. A chave do mistério pode estar no depoimento de Olacyr de Moraes, que ainda não falou com os investigadores.

O empresário brasileiro Olacyr de Moraes.
O empresário brasileiro Olacyr de Moraes.Reprodução

De 2006 a 2009 Heredia foi suplente do senador Roger Pinto Molina, opositor do governo Evo Morales que se asilou no Brasil após viver meses no consulado brasileiro em La Paz. Assumiu o cargo no Senado em algumas ocasiões, principalmente quando o governo de Morales precisava aprovar projetos polêmicos. Heredia, apesar de ser opositor, votava a favor do governo.

Casado com uma brasileira, o ex-político deixou seu país e se tornou lobista no Brasil. Quando vivia na Bolívia, em 2006, se reuniu com José Dirceu, que na época já havia sido demitido do cargo de ministro da Casa Civil do governo Lula e tinha ido àquele país representando empresários brasileiros. Segundo a imprensa boliviana, ele já esteve envolvido em polêmicas com a construtora brasileira OAS na desocupação de terras indígenas .

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