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Maduro apela ao diálogo em um artigo de opinião no ‘The New York Times’

O presidente venezuelano defende a legitimidade de seu Governo e adverte que os manifestantes querem unicamente derrubá-lo

Eva Saiz
Nicolás Maduro durante o programa de rádio governamental.
Nicolás Maduro durante o programa de rádio governamental.EFE

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, denunciou em um artigo de opinião publicado pelo jornal The New York Times que o único propósito de quem está liderando os protestos em seu país é expulsá-lo do poder. Em seu texto, intitulado Venezuela: Um apelo ao diálogo, o sucessor político de Hugo Chávez, além de querer uma solução pacífica para a crise venezuelana, defende a legitimidade democrática de seu Governo, enumera as medidas que tomou para tentar conter o caos político, econômico e social no qual a nação está imersa e tenta construir pontes com o governo dos Estados Unidos diante da ameaça de sanções, sem esquecer-se de lembrar que a oposição apoiada por Washington representa uma porcentagem ínfima da população e que muitos de seus membros tinham relação com o golpe de 2002 apoiado pelo Executivo, então presidido por George W. Bush.

“Os recentes protestos na Venezuela tomaram conta das manchetes da imprensa internacional. Grande parte da cobertura estrangeira distorceu a realidade que existe no meu país e os fatos que cercam os acontecimentos”. Assim começa o editorial de Maduro no Times, publicado cinco dias após o líder da oposição Leopoldo López estampar o seu artigo no mesmo jornal. Enquanto López recriminava a falta de liberdades e a repressão brutal que o governo venezuelano está exercendo sobre os estudantes e outros manifestantes, o presidente da Venezuela diz que essas denúncias sobre a deficiência democrática de sua Administração pertencem a uma “corrente de opinião que contradiz os fatos”. “Os protestos antigovernamentais estão sendo liderados por membros dos segmentos mais ricos da sociedade que têm como único objetivo reverter as conquistas de um processo democrático que beneficiou a grande maioria da população”, garante Maduro.

O presidente acusa os manifestantes de “ataques a clínicas, de queimar uma universidade no Estado de Táchira e de jogar coquetéis molotov e pedras contra os ônibus” e de outros ataques a instituições públicas, como o Ministério Público e o Tribunal Supremo. “Os que protestam têm um objetivo claro: a expulsão inconstitucional do Governo democraticamente eleito”, diz Maduro, que os considera “diretamente responsáveis” por “pelo menos a metade” das 36 mortes durante os protestos. Em seu editorial, no entanto, ele não faz nenhuma referência às alegações de tortura, abusos, prisões arbitrárias, desamparo e violações de direitos humanos contra os opositores que a Anistia Internacional denunciou em um relatório apresentado na terça-feira.

Maduro reconhece a precária situação econômica que seu país vive e a responsabilidade dos membros das Forças de Segurança em determinados atos de violência ao lembrar que seu governo criou uma comissão para investigar os incidentes durante as manifestações – uma instituição não reconhecida pela oposição por ser composta unicamente por membros ligados ao chavismo.

O presidente venezuelano sustenta que aceitou “as recomendações da Unasul para iniciar um diálogo com a oposição” e envia uma mensagem conciliadora ao Governo Obama, lembrando que transmitiu seus “desejos de voltar a trocar embaixadores”. Há um mês, Maduro designou Max Arveláez, um homem de confiança de Chávez e do atual chefe de Estado da Venezuela, como o representante da Venezuela nos EUA, uma nomeação que ainda não foi aceita por Washington.

No entanto, Maduro criticou o apoio que este país, em sua opinião, está dando à oposição venezuelana. “Nos EUA, os manifestantes têm sido descritos como pacíficos, enquanto se diz que o Governo da Venezuela os está reprimindo. De acordo com esta narrativa, o governo dos EUA estaria se alinhado com o povo venezuelano, mas na realidade está se aproximando de 1% da população que quer arrastar a nossa nação ao tempo em que os outros 99% não tinham lugar na vida política”, diz ele.

O dirigente venezuelano também chamou a atenção para um projeto de lei bipartidário que prevê sanções individuais para membros do Governo e empresas chavistas, bem como um lote de 15 milhões de dólares em ajuda para a oposição que, na semana passada, foi apresentado no Senado junto a um pedido, também bipartidário e dirigido ao presidente dos EUA, Barack Obama, para a aplicação de medidas punitivas diretas. “Não nos esqueçamos que muitos dos que apoiaram a expulsão do Governo democraticamente eleito em 2002 são aqueles que estão liderando os protestos atualmente”, adverte Maduro.

Da mesma forma como inicia o seu editorial, Maduro termina seu texto fazendo um chamado à entente: “A Venezuela precisa de paz e de diálogo para seguir adiante. Saudamos a quem, de maneira sincera, queira nos ajudar a alcançar esta meta”.

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