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Manobra arriscada perto das eleições

O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, decide seu futuro nas eleições do dia 30 de março

Juan Carlos Sanz
Duas jovens protestam contra a decisão de Erdogan.
Duas jovens protestam contra a decisão de Erdogan.REUTERS

“Por que o Governo ultrapassou a linha vermelha da liberdade de expressão se sabia que poderiam burlar a proibição ao Twitter?”, perguntava-se ontem, como muitos outros analistas turcos, o jornalista Gürsel Göncü em uma conversa telefônica de Istambul. O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, teme que os escândalos de corrupção propagados por meio das redes sociais nos dois últimos meses levem ao fracasso as expectativas de seu Partido da Justiça e o Desenvolvimento (AKP, nas suas siglas em turco) nas eleições autárquicas do próximo dia 30. Mas sobretudo batalha para que o voto nacional e a sua base islamista não caia abaixo de 40% e que também não seja ameaçada o controle sobre a importante prefeitura de Istambul.

Os tuiteiros turcos não são precisamente os eleitores conservadores e religiosos que deram três maiorias absolutas consecutivas ao AKP no Parlamento desde 2002. Seu perfil corresponde mais aos dos setores laicos e pró-ocidentais que apoiaram a onda de protestos de junho contra Erdogan nas grandes cidades. Depois das manifestações na praça de Taksim e no Parque de Gezi, em Istambul, muitos contribuíram para difundir em plataformas como YouTube o vazamento de uma conversa do próprio ministro com um dos seus filhos, no dia 17 de dezembro passado. Nela, supostamente, ensinava como esconder uma soma milionária, enquanto foram presos os filhos de três ministros por corrupção.

As redes sociais divulgaram sucessivos escândalos que atingem o Governo do AKP

As redes sociais divulgaram desde então sucessivos escândalos que respingam no Governo do AKP. Das pressões do poder aos meios de comunicação às intromissões políticas nas concessões de obras públicas, tudo está sendo arejado na Rede, enquanto diminuí o prestígio do partido de Erdogan como força hegemônica.

A Turquia entra agora em um decisivo período eleitoral, com três eleições —locais, presidenciais (em agosto) e legislativas (junho de 2015)— no qual Erdogan —que se consolidou como líder ao ganhar a prefeitura de Istambul em 1994— decide seu futuro político. Principalmente se uma parte importante de seus tradicionais eleitores, fartos de que a corrupção esteja de volta instalada na Administração, deem as costas às eleições autárquicas. Mas, como anunciou o analista político Mustafá Akyol, na Turquia já começou a caça às bruxas.

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