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A desigualdade pode reduzir o desenvolvimento da América Latina

O Banco Mundial aconselha os países da região a adotar políticas que promovam a redistribuição e garantam o acesso aos produtos básicos para seguir crescendo

Eva Saiz

A redução dos índices de pobreza na América Latina ao longo da primeira década do século XXI é um sucesso reconhecido por toda a comunidade e organismos internacionais, no entanto, a incapacidade de diminuir, na mesma intensidade, a brecha da desigualdade é uma matéria pendente que, se não for combatida, pode ser um obstáculo para o crescimento econômico na região e pode contribuir com a desaceleração que predizem todas as previsões macroeconômicas, de acordo com o último relatório do Banco Mundial. O estudo Ganâncias Sociais na Balança da América Latina e do Caribe que a organização apresentou nesta terça-feira 25 em Washington aconselha os países do hemisfério que adotem políticas promotoras redistributivas e que garantam o acesso generalizado a bens e serviços básicos para promover um desenvolvimento inclusivo no continente.

"A pobreza seguiu decrescendo de maneira importante na América Latina em 2012, ficando em um patamar de 12,3%. Mas agora, o maior percentual da população na região é composto por famílias vulneráveis", assinalou durante a apresentação do relatório Louise Cord, responsável pelo Grupo de Redução da Pobreza, Gênero e Equidade do Banco Mundial. Para Cord, "se a desigualdade não for reduzida, esta circunstância poderia pôr em questão este declínio nos níveis de pobreza" no hemisfério.

O relatório adverte que a falta de progresso na redução da desigualdade na América Latina pode pôr em risco o processo de diminuição da pobreza em prol de um crescimento da classe média na região. "Os persistentes níveis de desigualdade seguem restringindo o progresso para a redução da extrema pobreza", assinala o relatório.

Entre as causas que explicam as dificuldades dos Governos da região na hora de não poder frear a divergência entre ricos e pobres, o Banco Mundial cita um crescimento nos rendimentos que não veio acompanhado por uma redistribuição das rendas. O relatório da organização adverte que essa inércia persiste “o progresso em reduzir a pobreza e melhorar a prosperidade pode ser mais evasivo”.

O Banco Mundial propõe como motores para reduzir o problema da desigualdade a adoção de políticas econômicas mais redistributivas e o desenvolvimento de estratégias que estendam o acesso aos bens e serviços básicos para toda a população, com atenção especial à infância. O relatório, reconhece como são os países do Cone Sul –Brasil, Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai- quem continua liderando a região quanto à diminuição da pobreza, caiu 37% em 2012, em frente à zona andina – onde desceu em um 22%-. América Central e México, no entanto, expandiram o trecho de população acima da ombreira da pobreza, alcançando o 41%.

O crescimento dos rendimentos e as políticas redistributivas explicam a liderança do Cone Sul, de acordo com o documento do organismo. No caso dos países andinos, é unicamente o acréscimo dos rendimentos o que justifica a redução no nível da pobreza, enquanto no caso do México e da América Central, embora estes dois fatores “contribuíram por igual para diminuir a desigualdade, a contribuição da subida de rendimentos foi menor que nas demais regiões”.

Quanto à política redistributiva, o Banco Mundial alerta sobre o problema que, para a América Latina, supõe a generalização dos impostos indiretos, um fator que contribui para diminuir a redução da desigualdade. “O impacto regressivo da estrutura impositiva afeta bem mais os mais pobres”, assinala o relatório.

No caso da generalização do acesso a bens e serviços públicos, para o Banco Mundial “permitir que os menores tenham as mesmas oportunidades de ter educação básica, saúde e infraestrutura imobiliária é central para fomentar uma sociedade mais equitativa, livre de pobreza e que garanta o desenvolvimento de todo o potencial das pessoas durante a infância”. O relatório dá ênfase ao acesso à educação, moradia digna e às novas tecnologias como pilares para multiplicar as possibilidades de progresso e destaca que, em muitas ocasiões, é o meio no que uma pessoa nasce o que determina a qualidade e a extensão desse acesso.

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