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Editoriais
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A mensagem do Facebook

A compra de WhatsApp por Zuckerberg reforça a rede social, mas levanta dúvidas financeiras

A rede social Facebook comprou a companhia de mensagens instantâneas WhatsApp por 19 bilhões de dólares em uma operação de compra tecnológica mais cara da história, como explicou Mark Zuckerberg, fundador e estrela financeira do Facebook. O que Facebook quer comprar com WhatsApp é o futuro da comunicação instantânea, uma quota de mercado de 450 milhões de usuários que trocam bilhões de mensagens ao dia (principalmente na Europa). Com uma fonte de clientes em dispositivos móveis, o Facebook tenta reforçar seu lado mais débil a longo prazo, que é a evolução tecnológica acelerada no campo das comunicações. Mas esse reforço deve ser gerenciado com muita habilidade.

Há várias razões para supor que a integração de WhatsApp é um desafio. Claramente, corresponde à visão de Zuckerberg de “um mundo mais aberto e conectado”. Mas para que essa afirmação genérica se cumpra há que resolver alguns problemas reais. A primeira barreira é a das autoridades, que têm que aprovar a operação. A seguir, chegam as decisões dos sócios, decisivas para os clientes. WhatsApp é uma companhia média, sustentada modestamente pela sua falta de aspirações. O aplicativo custa ao usuário um dólar anual (2,75 reais) e renunciou voluntariamente à publicidade. Se o Facebook decidisse introduzir publicidade, corre o risco de que os usuários prefiram outras opções. Por outro lado, no processo de integração as condições de preço e confidencialidade de WhatsApp devem ser respeitadas, que são precisamente as que atraem os usuários do aplicativo. A princípio, tais garantias são mais difíceis de manter em um grupo global do que em uma empresa de tamanho médio.

Em termos financeiros, o custo da aquisição é caro. Os analistas têm razão ao dizer que o preço de uma compra não deve surpreender, mas para que não surja essa surpresa, o comprador deve colocar todas as cartas sobre a mesa. Ou Zuckerberg tem um cálculo preciso da evolução do negócio com o WhatsApp, que lhe permite assegurar uma recuperação do investimento em um prazo razoável e uma abrangência tecnológica suficiente para o Facebook durante os próximos 10 anos, ou as análises mais pessimistas têm fundamento, interpretando a operação como uma fuga, provocada pela diminuição de usuários do Facebook.

As lições de finais do século XX não devem ser esquecidas. O risco evidente de que se forme uma nova bolha tecnológica caso os crescimentos societários (como o que promove Facebook com WhatsApp) não estejam firmemente sentados em uma evolução razoável de clientes, rendimentos e benefícios, existe. A rápida evolução da tecnologia das comunicações dificulta esse cálculo prudente.

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