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Comissão aponta existência de centros de tortura de jornalistas durante a ditadura

Segundo relatório, os locais ficavam a 500 metros de distância do Palácio do Planalto e prendiam e torturavam profissionais da imprensa e outros cidadãos

Marina Rossi

No aniversário de 50 anos do golpe militar do Brasil, a Comissão da Memória e Verdade dos Jornalistas do Distrito Federal apresentou ao Senado um relatório apontando a existência de centros de tortura e detenção, durante a ditadura, a menos de um quilômetro de distância do Palácio do Planalto, na Esplanada dos Ministérios.

Segundo o documento, entregue nesta quarta-feira 19 ao presidente da Subcomissão Permanente da Memória, verdade e Justiça, o senador João Capiberibe (PSB-AP), profissionais de imprensa e outros cidadãos eram levados para dois prédios na Esplanada dos Ministérios, região Central de Brasília. Mesmo local onde ficavam o Exército e a Marinha, a 500 metros do Palácio do Planalto. Outros profissionais da imprensa também teriam sido torturados em quartéis do Exército localizados no Setor Militar Urbano e nas instalações da Polícia Federal.

Segundo o jornalista Chico Sant'Anna, a proximidade com o centro do poder político mostra o quando os chefes do governo militar estavam envolvidos nos casos de violacão dos direitos humanos. Na carta, os jornalistas pedem que os congressistas apurem a suposta existência dos centros de tortura na Esplanada, além das ações militares contra os profissionais da imprensa.

A Comissão da Memória e Verdade dos Jornalistas do Distrito Federal ouviu, até agora, 20 pessoas e colheu depoimentos que relatam casos de ameaças, torturas e prisões durante a ditadura, além de censura prévia de veículos de comunicação, a presença de censores dentro das redações e a violação de confidencialidade de correspondências de jornalistas.

Capiberibe disse que vai apresentar um requerimento para que a subcomissão agende visitas às sedes dos ministérios citados.

Um dos casos mais famosos de morte de um jornalista na ditadura foi de Vladimir Herzog. Na época, o Serviço Nacional de Informações divulgou que Herzog havia se suicidado na sede do DOI-COID (Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna), se enforcando com uma tira de pano.

A foto do jornalista pendurado pelo pescoço foi divulgada e, anos mais tarde, em outubro de 1978, o juiz federal Marcio Moraes responsabilizou o governo federal pela morte de Herzog e pediu a apuração de sua autoria e das condições em que ocorrera.

Porém, apenas no dia 24 de setembro de 2012, o registro de óbito de Herzog foi retificado, constando que a morte decorrera de "lesões e maus-tratos sofridos nas dependências do Exército", conforme fora solicitado pela Comissão da Verdade.

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