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O Sevilha se rende a Messi

A genial atuação do argentino põe líder ao Barça depois de remontar ante um rival que foi melhor em algumas fases (1-4)

Rafael Pineda
Messi, no terceiro gol do Barça.
Messi, no terceiro gol do Barça.Gonzalo Arroyo Moreno (Getty Images)

O Sevilha poderia derrotar o Barcelona, mas jamais poderia derrotar Lionel Messi. Com sua genial atuação, o argentino catapultou sua equipe para a liderança e, de passagem, demonstrou ao mundo que mantém intacta a sua condição de estrela. Alheio ao tira-teima entre o Sevilla e o Barcelona, Messi se redimiu com essa grandeza silenciosa que lhe confere uma aura ímpar. Um instinto matador tão eficiente como inexplicável ou, simplesmente, o dom do talento supremo que o acompanha. O Sevilla foi um rival digno, condenado por um erro de arbitragem, no empate do Barcelona, e em geral por sua falta de pegada.

Superar o líder exige muito, possivelmente demais para esta equipe ainda em busca da sua personalidade. E mais ainda quando a estrela de Messi reluz em uma noite de cão, contra os elementos atmosféricos e desportivos, num confronto desses de verdade, prenunciando agora um épico duelo contra esse Real Madrid tão pujante e contra um Atlético que se regenerará para tentar não voltar a cair. O exigente teste do Sevilla pode ter marcado um ponto de inflexão para a equipe catalã, porque Messi voltou em um momento delicado, com a Liga em jogo e às vésperas dos duelos decisivos da Liga de Campeões. O argentino conduziu a sua equipe a dar um golpe de autoridade categórico.

O que caiu em Sevilha não foi uma chuva, foi um dilúvio. E não só isso. O vento, em rajadas, com endiabrada velocidade, se tornou um inimigo considerável do jogo. O palco prenunciava-se muito frio e desagradável, num campo que o Barcelona está acostumado a respeitar. Uma galerna – o vento de noroeste comum na costa norte da Espanha, mas praticamente desconhecido nestas bandas – abateu-se sobre o bairro de Nervión, e Martino precisou olhar para o céu. Deu um descanso já planejado a Busquets, o jogador que queria ser Del Bosque, e escalou Song no lugar. Na defesa, condicionado pelas ausências de Mascherano e Jordi Alba, deixou Alves no banco, e Iniesta por fim voltou a ser titular. O Tata encerrou o debate sobre o Messi colocando o argentino perto da área do Sevilla. Depois, o atacante jogou como bem entendeu.

SEVILHA, 1-BARCELONA, 4

Sevilha: Beto; Diogo, Fazio, Pareja, Alberto Moreno; Iborra (Trochowski, m. 64), Carriço; Gameiro (Cheryshev, m. 64), Rakitic, Vitolo (Jairo, m. 76); e Bacca. Não utilizados/utilizos: Javi Varas; Fernando Navarro, Cristóforo e Reis.

Barcelona:  Valdés; Montoya, Bartra, Piqué, Adriano; Xavi (Busquets, m. 83), Song, Iniesta; Alexis (Sergi Roberto, m. 89), Messi e Pedro (Cesc, m. 73). Não utilizados/utilizos: Pinto; Alves, Afellay e Tello.

Gols: 1-0. M. 15. Alberto Moreno. 1-1. M. 34. Alexis, de cabeça. 1-2. M. 44. Messi. 1-3. M. 56. Messi. 1-4. M. 87. Cesc.

Árbitro: Teixeira Vitienes. Amonestó a Song, Carriço, Pedro, Valdés, Diogo e Cheryshev.

30.000 espetadores no Sánchez Pizjuán.

Milagrosamente, o gramado resistiu como pôde sob tanta água. Rápido e encharcado em algumas zonas, ditou o andamento do jogo em alguns momentos. Faltou ao Barcelona um pingo de paixão no seu posicionamento tático, possivelmente em decorrência do esquema solidário do Sevilla. Emery juntou bem as linhas da sua equipe, oferecendo uma lição na hora de saber quando pressionar a saída de bola do Barcelona. Song não sofria vigilância excessiva, mas as coisas mudavam quando Xavi, Iniesta e Messi dominavam a bola. Até dois e três jogadores do Sevilla apareciam para asfixiar o rival. Um posicionamento excelente, com um contratempo evidente: o extenuante esforço físico que acarretava.

Alexis trata de ir-se de Trochowski.
Alexis trata de ir-se de Trochowski.Jorge Guerrero (AFP)

Enquanto teve forças, o Sevilla desenhou um gol numa infiltração de Rakitic que, com uma dose de sorte, Alberto Moreno finalizou. Os mandantes ainda tiveram uma bola na trave, num arremate à queima-roupa de Bacca, e traçaram um contragolpe esplêndido. Rakitic, líder e farol, não conseguiu finalizar aquele que teria sido o segundo gol. O Barcelona, desconectado, viu a luz em um gol impedido de Alexis, após cobrança de falta de Messi. O argentino apareceu com seu excelente toque depois de muitos minutos de apatia. Não importa. É possível que 21 jogadores disputem uma partida diferente. Messi começou a jogar quando as arquibancadas bradavam contra o árbitro Teixeira Vitienes. O Sevilla, valente, esteve prestes a fazer o segundo em um lance na qual Valdés tapou o ângulo de Bacca. No roteiro tantas vezes repetido, o bom jogo da equipe andaluz foi respondido pelo Barcelona com um contragolpe genialmente executado por Messi. Não há posicionamento que sirva diante do tacape do argentino. Restam as dúvidas sobre sua equipe e, obviamente, o meritório esforço do Sevilla, castigado por um grosseiro erro do árbitro e pela legendária pontaria de Messi. Se ele marca, quase não se nota o jogo pesado de Xavi ou o fato de Pedro e Alexis acabarem eclipsados pelo grande senhor do Barcelona. Diante dele, nem a inexorável passagem do tempo que lastreia alguns dos seus companheiros parece fazer efeito.

Emery tinha à sua frente a partida que desenhara na prancheta, e na qual conseguiu conter o Barcelona, mas não Messi. Poucos senões podiam ser ditos a respeito do comovedor esforço dos andaluzes, unicamente o de não terem conseguido serem mais certeiros em suas duas aproximações quando tinham a seu favor a vantagem conferida pelo gol de Alberto. O Sevilla, por enquanto, não pode destilar grandeza, e se mostra um pouco confuso na sua mais do que necessária regeneração.

O segundo tempo acabou sendo longo demais para o Sevilla. Emery se despiu dos seus complexos e mandou a sua equipe para cima. Em busca do empate ou do suicídio, o time da casa aplainou os caminhos do contragolpe para o Barcelona. O Sevilla não se rendeu, e teve os gols nas chuteiras de Vitolo e Gameiro. Mas, na sorte suprema, ninguém se movimenta como Messi. O terceiro gol, o segundo na sua conta, fez o tempo parar. O Barcelona ganhava, sem fazer muito esforço. O Sevilla perdia, brigando até o final, falhando em sucessivas ocasiões, afogado em sua ineficácia e na incredulidade por ter tentado tanto, com tão escasso prêmio.

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