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Garoto que sobreviveu à onda gigante em Portugal nega trote

Um canal de televisão divulga provas contrárias ao revelar mensagens telefônicas das vítimas enviados alguns dias antes

Antonio Jiménez Barca
Praia de Meco, próxima a Lisboa, onde morreram os seis jovens universitários.
Praia de Meco, próxima a Lisboa, onde morreram os seis jovens universitários.FRANCISCO LEONG (AFP)

Na quinta-feira passada, João Miguel Gouveia realizou seu testemunho para a polícia portuguesa. Gouveia é o único sobrevivente da tragédia que comoveu o país há mais de dois meses, quando seis jovens morreram na noite do dia 15 de dezembro em uma praia a 50 quilômetros ao sul de Lisboa ao ser engolidos por uma onda em circunstâncias que não estão nada claras. Há muitos indícios que apontam para que os sete jovens, todos estudantes da Universidade Lusófona, realizavam um trote reservado aos iniciados no mundo hierarquizado dos trotes portuguesas. Mas o sobrevivente, denominado Dux (duque), a maior categoria na hierarquia dos praticantes de trote, e encarregado, em teoria, de ordenar ao resto o que deviam fazer para superar as provas, negou que nessa noite, fria e desagradável, estivessem na praia fazendo trote.

Segundo publicou nesta sexta o Correio dá Manhá, o estudante negou ter obrigado os outros a entrar no mar. Disse que  tudo foi um acidente fatal e que cinco dos seis estudantes que morreram se encontravam sentados na areia e foram acometidos por uma grande onda repentina. Ele e outro estudante, Tiago Campos, se encontravam perto, de pé. O cadáver de Campos foi o primeiro a ser encontrado, poucas horas depois da tragédia, com o pescoço partido pela potência do golpe das ondas.

Gouveia, a única pessoa, a princípio, que pode contar o que se passou naquela noite, declarou para um policial como testemunha e não como acusado. O diário acrescenta que a polícia judicial está dando prioridade ao assunto, e que, nos próximos dias, provavelmente, farão uma reconstrução no local dos fatos.

Enquanto isso, a cadeia de televisão TVI revela dados que questionam a versão do sobrevivente. O canal de TV teve acesso a mensagens de telefone de Joana Barroso, uma das vítimas, enviadas dias antes da tragédia a duas amigas. E estas mensagens mostram que a estudante sabia que ia participar em um trote durante o fim de semana. No dia 3 de dezembro, Alicia Ventura, uma amiga de Joana, lhe enviou um SMS perguntando se ela estaria em Lisboa no dia 15 de dezembro; a vítima respondeu que estaria com os membros das confrarias das calouradas, recebendo trotes de “Mamut”, que é como Alice e Joana chamavam o Duque, isto é, João Gouveia, o sobrevivente.

Tanto esta amiga como outra que também recebeu uma mensagem de Joana, estão convencidas de que o que passou naquela madrugada na praia tinha a ver com uma calourada estranha, uma espécie de rito de iniciação para estudantes relacionados com o mundo dos trotes e que, provavelmente, haviam mais pessoas envolvidas que até agora não revelaram sua participação.

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