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Exportações brasileiras serão afetadas com crise na Argentina

Restrição à importação e desvalorização do peso tornam produtos brasileiros menos competitivos, num momento em que argentinos perdem poder de compra

Carla Jiménez

Dias difíceis virão para o exportador brasileiro que tem a Argentina como mercado consumidor. Depois da crise cambial instalada nesta semana, que levou a equipe de Cristina Kirchner a reduzir as restrições de compra de dólares para pessoa física para evitar uma nova mordida nas parcas reservas internacionais, o próximo passo é limitar ainda mais as importações do país. Seria mais uma medida desesperada de preservar a moeda estrangeira, que trará consequência tanto para os argentinos, como para o Brasil.

“Vai começar a faltar produtos na Argentina”, diz Josefina Guedes, da GBI Consultoria em Comércio Exterior, que começa a sentir a preocupação dos exportadores brasileiros. “Antes tínnhamos problemas pontuais para liberação da entrada de produtos, que vinha sendo negociado ponto a ponto. Mas agora, a situação começa a ficar generalizada”, explica. A Argentina é o terceiro parceiro commercial do Brasil, atrás apenas da China e dos Estados Unidos. Em 2013, o país exportou para o mercado argentino o equivalente a 19,6 bilhões de dólares, em  máquinas, partes e peças, eletrodomésticos, carros, entre outros. Por isso, qualquer movimento mais brusco na terra de Cristina Kirchner traz preocupação para o Brasil.

Para Roberto Gianetti da Fonseca, diretor de Relações Internacionais da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, há dois canais de contaminação com o imbróglio cambial argentino. Um deles no campo comercial. “A desvalorização argentina encarece os produtos brasileiros por lá num momento em que a população de lá perde poder de renda”, explica. Por outro lado, na parte financeira a volatilidade costuma deixar os investidores globais mais cautelosos. “Se houvesse um índice de risco Mercosul, ele estaria alto, tanto pela Argentina, como pela Venezuela, dentro da visão de que os países estão interrelacionados”, explica Fonseca.

“Tudo indica que isto é o começo de uma confusão”, diz Luís Eduardo Assis, ex-diretor do Banco Central no Brasil. “Na sequência, a desvalorização do peso deve se refletir na inflação de lá”, explica Assis.

Ao longo do dia de hoje a tensão nos mercados com a Argentina, somado a indicadores da China abaixo do esperado, pressionava o câmbio no Brasil, que subia acima de 2,40 reais. O Banco Central brasileiro fez várias intervenções para evitar uma maior escalada do real. Mas, o contágio não deve passar disso, acredita Assis. “É muito pequena a chance (de a Argentina vir a gerar uma crise no Brasil). Só quem está realmente desinformado pode confundir a situação de lá com a nossa”, avalia.

Há alguns dias, o The Wall Street Journal reproduziu a frase de um economista brasileiro (que não se identificava) que previa que o Brasil estava se transformando numa Argentina, uma ideia que imperou no Brasil dos anos 1980 e 1990. Hoje, diz Assis, essa projeção não faz o menor sentido. “Temos mais de 370 bilhões de dólares em reservas, nosso câmbio flutua com intervenções pontuais, não faz o menor sentido essa comparação”, afirma. As reservas argentinas estão abaixo dos 30 bilhões de dólares.

 Para Gianetti da Fonseca, é certo que o país vai perder parte das suas exportações com a crise no país vizinho. “Portanto, é hora de buscar mercados alternativos. Olhar para a Ásia, para o México, para conseguirmos redirecionar nossos produtos para outros mercados.

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