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Os ex-presos do ETA mostram seu “total compromisso” com as vias políticas

Eles dizem aceitar "toda sua responsabilidade em relação às consequências do conflito" e fazem questão do "direito a decidir"

Pedro Gorospe
Ato de ex-presos do ETA no norte da Espanha.
Ato de ex-presos do ETA no norte da Espanha.Claudio Alvarez

Um ato público protagonizado por ex-presos do ETA neste sábado se encerrou após a leitura de um manifesto no qual os antigos detentos se solidarizaram "totalmente" com o comunicado emitido em 28 de dezembro último pelo autodenominado Grupo de Presos Políticos Vascos (EPPK, na sigla em basco). Nesse comunicado, os presidiários do grupo terrorista recusavam a violência, aceitavam a legalidade penitenciária espanhola e reconheciam o “dano multilateral” de suas ações.

Os ex-presos presentes no antigo matadouro da cidade de Durango, em Biscaia (norte), respaldaram "plenamente" o comunicado do último sábado de 2013. Em um manifesto lido em castelhano por José Antonio López Ruiz, o Kubati -assassino, entre outros, de sua ex-companheira Dolores González Katarain, a Yoye -, os ex-presos mostram sua "total conformidade com as decisões adotadas" pelo EPPK e afirmaram que seu "compromisso é total com o novo cenário político aberto depois da iniciativa da Izquierda Abertzale (esquerda nacionalista basca)", isto é, com a rejeição à violência e o uso único de vias políticas. E acrescentam: "aceitamos toda nossa responsabilidade no que diz respeito às consequências do conflito".

Os ex-presos não foram nem um milímetro além do comunicado de 28 de dezembro: nem pedem o desarmamento nem a dissolução do ETA. Também não usam a palavra "perdão", mas começaram seu discurso com uma frase que tenta minimizar o efeito provocado pelo ato nos grupos de vítimas: “Somos conscientes de que nossas palavras podem gerar sentimentos contrapostos, que gerarão inquietude. É por isso que atuaremos com responsabilidade, com vontade e visão positiva e construtiva”.

O resto do discurso seguiu a retórica habitual dos comunicados do grupo. Fazem questão de que a "solução final ao conflito (...) deveria ser concretizada no direito de decidir que o povo basco tem”. “A normalização política, democrática exige poder desenvolver esse direito elementar”, insistem. Também reclamaram aos cidadãos bascos e aos agentes políticos e institucionais um "esforço para mover os governos espanhol e francês no rompimento do bloqueio".

Os ex-presos, sem pedir em nenhum momento a entrega das armas, acreditam estar "finalizado o ciclo armado do conflito". Em concreto, reclamam uma "mudança da política penitenciária" e "acabar com a dispersão" dos presidiários em cárceres afastadas da região do país basco. "Temos que repatriá-los e libertar até o último deles", urgem.

O ato ocorreu em um ambiente contido e com uma apresentação muito sóbria. Na mesa dos oradores simplesmente havia um cartaz no qual se reclamava o regresso ao país basco dos presos e fugitivos do ETA. Por trás dos quatro oradores, situavam-se cerca de 80 ex-detentos reclusos do grupo, entre eles Domingo Troitiño, autor da matança do centro comercial do Hipercor em 1987, em Barcelona, e Jesús María Zabarte Arregui, o "carniceiro de Mondragón". O único incidente foi protagonizado por um jornalista da rede Intereconomía, que lembrou que os presentes tinham "309 assassinatos" nas costas e perguntou se pediriam perdão. Ele foi convidado a deixar o recinto.

O juiz da Audiência Nacional Santiago Pedraz decidiu nesta manhã não proibir o ato convocado pelos mediadores do EPPK, no qual se previa participação de uma centena de ex-presos do ETA. O ato, que foi classificado como “repugnante” pelo ministro do Interior, Jorge Fernández Díaz, pretendia dar apoio ao comunicado do último 28 de dezembro.

Ao encontro não foram representantes do partido nacionalista basco de esquerda Sortu, embora segundo os que convocaram o encontro, o ato suporá ademais, segundo as mesmas fontes, “um apoio” à estratégia do partido da esquerda nacionalista a favor das vias “exclusivamente políticas e democráticas”. Os ex-presos também se reafirmarão na aposta do processo aberto depois da suspensão da atividade armada por parte do ETA em 20 de outubro de 2011.

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