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FUTEBOL | ARGENTINA

O negócio da torcida radical do Independiente

O líder do 'barra brava' do time argentino negocia as cadeiras preferenciais na arquibancada da homenagem a Gaby Milito

Milito, quando jogava pelo Barcelona.
Milito, quando jogava pelo Barcelona.ENRIC FONTCUBERTA

Gabriel Milito, o zagueiro que foi estrela do Zaragoza, time campeão da Copa do Rei 2004 e peça-chave no vestuário do Barça de Pep Guardiola, teve nessa madrugada sua partida de homenagem no clube onde começou e acabou sua carreira. O campo do Independiente de Avellaneda abriu suas portas para se despedir do "Mariscal", e ali estiveram Forlán, Mascherano, Zanetti...

Mas a notícia, na realidade, não esteve sob as luzes do estádio argentino Libertadores da América, mas sim, sob as sombras. Nos dias que antecederam o evento, enquanto genuínos "Diablos Rojos" iam comprar seus bilhetes de entrada nos locais autorizados, Pablo Bebote Álvarez, aquele sinistro personagem que ameaçou o jornalista Jon Sistiaga em uma reportagem sobre os barras bravas argentinos feita pelo Canal + (link em espanhol), punha abertamente à venda, através do Facebook, um lote próprio de ingressos. Bebote, líder da torcida mais radical do Independiente, oferecia lugares preferenciais pelo mesmo preço que custavam as entradas mais econômicas nas bilheterias oficiais. E comprar esses bilhetes era tão fácil quanto fazer uma chamada pelo telefone, dar o nome e ir buscar as entradas em um bar nas cercanias do clube. Sem necessidade de se esconder, com absoluta impunidade. E o pior, não poderia nem se falar em revenda. As entradas provinham das localidades de protocolo, assinadas pela organizadora —Imagem Desportiva, a mesma que montou as partidas de Os amigos de Messi—  que o clube contratou para a emissão dos convites especiais.

Um promotor já pesquisa as conexões entre os radicais do River e os dirigentes do clube

O fato aconteceu em um momento em que o tema do mercado negro de bilhetes para eventos em campos de futebol está em alta na Argentina. Dias atrás foi descoberta uma trama para desviar dos circuitos algumas entradas para partidas e concertos no estádio do River Plate. O promotor José Campagnoli tem pesquisado o caso há um ano e meio, onde são acusados Daniel Passarella (capitão de Argentina no Mundial 78 e presidente do River há até duas semanas), outros dirigentes da entidade e os líderes de "Los Borrachos del Tablón", a barra brava do clube, ala mais radical da torcida.

Uma série de escutas telefônicas, que se tornaram públicas pelo jornal esportivo Olé, deixam evidente o estreito relacionamento existente entre uns e outros, que seriam sócios no negócio de comercializar entradas por uma via alternativa e repartir o lucro. Mas o tema chega inclusive mais longe. Matías Goñi, um dos líderes da torcida do River, é funcionário da secretaria de Indústria do país, e em algumas dessas conversas se orgulha de suas visitas à Casa Rosada (sede do Governo) e à residência presidencial.

Matías Goñi, um dos líderes de torcida do River, é funcionário na secretaria de Indústria do país

A ligação dos barras bravas, que em boa medida controlam o futebol argentino desde os anos noventa, com os dirigentes de seus clubes e políticos não é nenhuma novidade. Nela reside a força destes grupos, que deixaram de ser os violentos que enfrentavam a morte com seus pares rivais, para se converter em sociedades ocultas com grandes benefícios econômicos.

Se as escutas telefônicas obtidas pelo promotor Campagnoli forem convertidas em provas efetivas, poderia se descobrir até onde chegam essas sinistras conexões dos barras bravas. Mas existe um inconveniente. No último dia 13 de dezembro, o citado promotor foi suspenso de seu cargo por um suposto “mau desempenho” de suas funções. Campagnoli pesquisa também a causa de Lázaro Báez, suposto laranja do casal Kirchner em múltiplos negócios não muito transparentes. Se o promotor não for restabelecido, é provável que a causa dos barra bravas morra na praia.

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